Barak Obama é um excelente orador. Dos melhores que a humanidade já viu. Além de ser um dos mais destacados líderes mundiais da história, ele se apresenta sempre de maneira carismática e sedutora. Não é à toa que chega a cobrar US$ 400 mil por uma palestra.

Para assistir à palestra que fez em São Paulo na quinta-feira (5), as cerca de mil pessoas que compareceram ao evento tiveram de desembolsar R$ 7.500 cada uma. Uau, não me lembro de um palestrante cobrar cachê tão alto. Você poderia dizer: “ah, eu não pagaria uma grana dessa nem matando para ver o Obama”.

Bem, imagino que a maioria dos que foram ouvi-lo teve o ingresso pago pelas empresas em que trabalham ou por outras organizações que quiseram agradá-los com um convite tão especial. Eventos dessa natureza servem também, e às vezes, principalmente para fazer network. Como diz Max Gehringer, de longe você sente o cheiro de gráfica, já que quase todo mundo reforça o estoque de cartões de visita.

O melhor da história é que podemos aprender técnicas importantes de comunicação a partir do exemplo do ex-presidente norte-americano. Obama não diz uma palavra ao acaso. Todos os seus discursos, desde os mais corriqueiros até os mais complexos, são minuciosamente planejados, até quando fala de improviso.

Na época em que presidia os Estados Unidos era tão cuidadoso com os discursos que dificilmente se apresentava sem apoio do teleprompter. Na última vez em que esteve no Brasil, em 2011, escrevi um texto para o UOL analisando seu desempenho na tribuna. Muitas pessoas se surpreenderam quando eu disse que ele fizera todos os discursos com a ajuda do teleprompter.

Obama tem tanta habilidade em usar esse aparelho que as pessoas praticamente não percebem que está lendo. Se observarmos suas falas de improviso, vamos constatar que nessas circunstâncias ele tem a precaução de repetir alguma mensagem que disse em outras oportunidades. Ou seja, as palavras talvez sejam outras, mas a essência da informação é a mesma.

Tudo é muito bem pensado. Quando esteve no Rio de Janeiro usou um traje menos formal, pois o momento permitia. Em São Paulo foi adequado à circunstância e se trajou com mais formalidade. Assim como fez na vez anterior, dedicou-se a mencionar informações que estivessem próximas da realidade do público. Segue a regra à risca –quanto mais a informação estiver próxima dos ouvintes no tempo e no espaço, maior será o interesse da plateia pela mensagem.

Esse é um cuidado que devemos ter sempre. Antes de iniciarmos uma apresentação, devemos refletir: que tipo de adaptação eu devo fazer para que a minha mensagem vá ao encontro da realidade dos ouvintes? Com um pouco de atenção, conseguimos resultados excepcionais adotando essa atitude.

Em São Paulo deu uma aula de como fazer a introdução de um discurso. É no início, no exórdio que devemos dedicar nossos esforços para conquistar a torcida, a atenção e a docilidade dos ouvintes. Segundo Cícero, “exórdio é a oração que serve para motivar o ânimo do ouvinte para receber bem o restante da fala”. Ou seja, é o que dizemos no início que motiva os ouvintes a ouvirem o que vamos dizer em seguida.

Iniciou sua apresentação mostrando de forma magistral como um orador deve agir para conquistar os ouvintes. Cumprimentou de maneira gentil a plateia, como deve ser. Temos de fazer o vocativo, cumprimentar o público como se estivéssemos cumprimentando um amigo querido. Assim, transformamos a plateia num grupo de amigos, e as pessoas começam a torcer pelo sucesso da nossa apresentação já nesse contato inicial.

Ele dedicou boa parte do discurso transmitindo informações que pudessem cativar os ouvintes. Comentou que sempre teve vontade de voltar ao Brasil, já que fazia um tempinho da sua última visita em 2011. E que nutria essa vontade de retornar por causa da nossa lendária hospitalidade. Ora, que plateia não gostaria de ouvir palavras tão amáveis?!

Ainda no começo do discurso citou a visita que fez à Cidade de Deus e o passeio com Michelle e as filhas ao Cristo Redentor. Na primeira informação procurou mostrar seu interesse e preocupação com todos os segmentos da sociedade brasileira, inclusive as comunidades mais carentes.

Ao fazer referência ao Cristo Redentor, tocou o sentimento dos brasileiros que têm orgulho desse nosso marco conhecido mundialmente. Aproveitou também para falar de como estava sentido por não ter podido comparecer à Copa do Mundo e aos Jogos Olímpicos. Somente essas informações seriam suficientes para envolver o público com simpatia, entretanto, foi ainda mais longe.

Já preparando a ligação que faria com o conteúdo da sua mensagem, que trataria também dos aspectos ligados à globalização, comentou que o Brasil foi o primeiro país da América do Sul que visitou como presidente. E, para não parecer demagogia, explicou que essa visita não foi por acaso.

Ao justificar ter escolhido o Brasil para ser o primeiro a visitar quando governava a nação mais poderosa do mundo, comparou a importância do Brasil com os Estados Unidos. Afirmou que são as duas maiores economias do hemisfério e que ambos têm responsabilidade e oportunidade única de enfrentar as desigualdades econômicas, o terrorismo e outras questões relevantes que preocupam o mundo.

E assim durante 23 minutos encantou o público antes de se colocar à disposição para responder às perguntas dos organizadores do evento. Essa é outra boa lição: falar com objetividade. No Theatro Municipal do Rio falou durante 24 minutos, em São Paulo 23. E nesse tempo correspondeu muito bem à expectativa do público. Ah, e não se esqueceu de ser simpático dizendo em português: “muito obrigado”.

Embora não seja mais o presidente dos Estados Unidos, sua maneira de se comunicar e sua capacidade de envolver as pessoas em temas relevantes para humanidade fazem dele um dos líderes mais influentes do planeta.

 

Fonte: UOL. Publicado em 10/10/2017, por Reinaldo Polito.

 



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